FURET, François. Pensando a Revolução Francesa. Paz e Terra. Edição 2 [p. 15-95]
O autor propõe o debate sobre a Revolução Francesa, mas de um ponto de vista menos inocente do que muitos historiadores fazem, mas sim de ter pudor, já que em 1789 é a data ao nascimento, o ano zero do mundo novo, fundado no conceito de igualdade para todos, não podendo assim correr o risco de fazer o anacronismo com o tema.
Furet diz em seu documento que a revolução tem como função social manter o relato das origens, e que a revolução francesa é a história contemporânea e que ela sim teve um nascimento esplendido e que seu fim não existe, ao contrário do antigo regime que teve o seu fim, mas que seu nascimento se desconhece. Ele também dura claro que o século XIX acreditava-se na Republica, e que o século XX acreditava-se na Revolução.
Sendo a Revolução Francesa contemporânea, após um século passado e com a pressão da sociedade de História da Revolução Francesa, abre-se na Sorbonne um “curso” de história da Revolução obtendo-se assim uma legitimidade acadêmica sobre o assunto.
A leitura do documento de Furet deixa bem explicito que a Revolução Francesa existem várias histórias englobadas como a dos realistas, liberais, jacobinas, anarquistas ou libertários e que esta não é nem exclusiva e nem limitativa, mas que todas tem algo comum: elas são histórias da identidade. E no século XX, o historiador da Revolução Francesa comemora o acontecimento que ele conta e/ou estuda, mas que entretanto é preciso tentar romper esse circulo vicioso da historiografia universitária, onde os comunistas seguiram, os socialistas e os radicais na gestão comemorativa, agarra-se a ele e não desrespeita as tradições.
O autor também nos mostra dois estudiosos da Revolução Francesa, o Michelet e Tocqueville e diz que qualquer historiador da Revolução Francesa precisa escolher um dos dois para fazer seu trabalho, já que Michelet comemora a história, faz dela achados ao coração, adivinhações da alma e dos atores; e no ponto de vista de Tocqueville, ele não cansa de interrogara distância que supõe existia entre as intenções dos atores e o papel histórico que eles desempenham e ainda faz criticas a qualquer história da Revolução fundada na vivencia dos revolucionários. É como se tivesse que escolher entre uma história republicana e uma história conservadora da Revolução Francesa, ou ainda que haja um abismo entre o balanço da Revolução Francesa e as intenções dos revolucionários.
“Essa miscigenação de gêneros corresponde à confusão de dois objetos de análise: a Revolução enquanto processo histórico, conjunto de causas e conseqüências, e a Revolução enquanto modalidade da mudança, como dinâmica particular da ação coletiva” (pg. 33)
Na leitura o autor diz que Tocqueville acreditava que a Revolução descende de linha direta do Antigo Regime.
A Revolução Francesa é vista como tendo dois lados, de um lado uma monarquia estúpida e uma nobreza egoísta, ligados uma a outra por interesses políticos e ideologias reacionárias; Já do outro, o resto da sociedade civil, conduzida, arrastada por uma burguesia rica, ambiciosa e frustrada com esses acontecimentos entre o ano de 1789 à 1794, dão a luz ao capitalismo (econômico).
Como já se viu, o autor confirma que Tocqueville acreditava numa história contínua, mas ele dá o nome para essa problemática de Revolução-processo, e que é no seu caso, um processo de continuidade; a Revolução estende e consolida, levando a seu ponto de perfeição, o Estado administrativo e a sociedade igualitária, cujo o desenvolvimento é a obra característica da antiga monarquia, ou seja, antigo regime.
Furet fala que nem o capitalismo nem a burguesia tiveram necessidade de revoluções para dominar os principais países da Europa no século XIX. Mas desde 1787, o reino da França é uma sociedade sem Estado e isso faz com que esse país invente a Revolução, a cultura democrática, revelando uma consciência fundamental da ação histórica, e ainda que a Revolução Francesa não inventou a política como domínio autônomo. Mas que chegado o ano de 1789, que os nobres juntamente aos mais humildes camponeses a revolução nasceu de um cruzamento de vários acontecimentos, uns muito diferentes dos outros, pois uma crise econômica resultou-se numa crise política declarada desde 1787. Apesar que desde 1789, a consciência revolucionária e a vontade de vencer o Estado, aflorava na mente de todos.
“A Revolução é o espaço histórico que separa um poder de outro poder, e onde uma idéia de ação humana sobre a história substitui-se ao instituído” (pg 40)
O autor confirma sua pesquisa sobre a Revolução Francesa dizendo que ela constitui-se uma ideologia de ruptura radical com o passado, e que isso era de fato um formidável dinamismo cultural da igualdade. E ele continuando dizendo que a primeira tarefa de um historiador revolucionário é redescobrir a análise política como tal.
O autor agora começa a falar de outro estudioso da Revolução Francesa, o Cochin, e ele dizem que esse estudioso consiste em dois outros estudiosos, o Michelet e o Tocqueville, mas em resumo ele diz que Cochin leva o espírito dedutivo de Tocqueville, e o estilo desordenado de Michelet.
Furet entra num personagem muito importante da revolução, O Rousseau. Ele diz que Rousseau não é em nada responsável pela Revolução Francesa, mas é certo que ele construiu, sem perceber, os materiais culturais da consciência e da pratica revolucionaria, e que foi Rousseau quem forneceu a formulação teórica mais rigorosa dessa questão. É ele quem lhe dá uma solução especulativa, no nível de direito, pela vontade geral. E Furet continuava dizendo que a vantagem de Rousseau é o seu vigor. A partir da igualdade dos homens, dos direitos dos indivíduos, a seus olhos, só há duas soluções possíveis: o contrato social ou o homem acima da lei, que garanta ao menos a paz social. Desde então, o contrato histórico, mas preenche as mesmas funções que a demonstração de Rousseau: dar não somente o poder, mas a relação entre o individuo e o coletivo abstrato que os constitui enquanto povo, uma designação legítima que tenha como fundamento os direitos desse individua. Mais claramente Rousseau nos diz que o coletivo abstrato tem o nome de nação, e explica que nação é precisamente o quadro da história e do contrato social, um conjunto de direitos individual imprescritíveis, e defeso somente ela garante. A nação é o conjunto homogêneo e unânime de cidadãos que recuperam seus direitos.
Agora o autor explica como foi a difusão dos pensamentos revolucionários, dizendo que essa difusão foi feita pela leitura de melhores de brochuras pré-revolucionarias, e que metade dessas brochuras continha referências a história da França, um verdadeiro apelo histórico pelo direito da nação. A literatura então assume desde então a função política. Com isso a confusão de papéis, a instalação de homens de letras em uma função da qual eles exercem apenas uma parte imaginária, sem saber de qualquer prática do poder, os letrados tendem a substituir o fato pelo direito, os franceses então partem à liberdade abstrata, sem experiência coletiva, sem mios de experimentar os limites da ação, partindo sem saber para a ilusão política. Isso tudo se deu pois a sociedade francesa ao século XVIII encontrava-se numa busca desesperada de lideres, pois era uma sociedade desenvolvida demais para manter-se obediente ao tipo de governo do Estado, por isso essa sociedade foi progressivamente substituindo-os por outros lideres: os filósofos e os homens de letra. E nessa tentativa de se refazer um novo poder, com uma sociedade sem contradições, que vai se constituir a consciência revolucionária, com um imaginário político, e mais como uma reviravolta no imaginário do antigo regime.
Como o autor já disse, a revolução foi criada num conceito ideológico, mas essa ideologia veio de um pensamento político francês que optou por ter traços culturais específicos, que serviram para a ideologia revolucionaria. Também só relembrando o rei e o chefe da nação, mas retira sua autoridade do consentimento dessa nação, e só governa legitimamente enquanto permanecer submetido aos termos constitutivos do contrato, que também é chamado constituição do reino. Esses pontos o autor faz questão de destacar.
“Pensei durante muito tempo que poderia ser intelectualmente útil deslocar o começo da Revolução Francesa para antes, para o início de 1797 e a reunião dos notáveis: esse deslocamento cronológico apresenta a dupla vantagem de datar mais exatamente a crise dos poderes tradicionais, e de integrar o que se costuma chamar ‘revolução aristocrática’ à Revolução propriamente dita. Na teoria e na prática a monarquia morre nesse ano...” (pg 59)
Furet diz que a ruptura que se opera no fim de 1788 entre os parlamentos, ligados a convocação tradicional dos estados, e os resto da sociedade política, que já se intitula “a nação”, e como viu claramente Cochin, a primeira visão do campo revolucionário e com muita certeza Tocqueville data de setembro de 1788 aparição do que ele chama de o verdadeiro espírito da Revolução. Assim como Rousseau, Montesquieu foi citado e comentado na revolução, mas no final como já se viu só se fala de Rousseau, ele se tornou e vai permanecer como o fundador único da Revolução.
1789, em sua primavera, fica claro que o poder não mais está nesses conselhos ou nesses gabinetes do rei da França, de onde partiam tantas decisões, tantos regulamentos, tantas leis, mas sim de um poder coletivo e uma nova consciência histórica, ou seja, o novo poder é do povo. A Revolução considera qualquer poder executivo corrupto e corruptor, já que se encontra separado do povo e portanto privado de sua legitimidade.
Segundo Furet a revolução é esse conjunto de práticas novas que super investe a política de significações simbólicas, que desde is primeiros acontecimentos a consciência revolucionaria é uma consciência da ação histórica.
Agora o autor do texto Pensando a Revolução Francesa, fala sobre outro personagem da Revolução, o Robespierre. Robespierre foi um herói epônimo do Terror e da Salvação pública, patrocinado por seus antigos amigos, que se tornam “termidorianos”, que conhecem o enredo, e ganham o papel central da conspiração contra a republica, sem compreender que estão contribuindo para sua lenda. Robespierre não acreditava mais em um poder popular, mas a oposição desse poder pelos aproveitadores da Revolução. O que fez de Robespierre uma figura imortal, não é que ele tenha reinado alguns meses sobre a Revolução, mas que a Revolução fale, através dele.
A história da Revolução deve considerar não somente o impacto das circunstância da crise política, mas sim a maneira pela qual as circunstâncias são arranjadas no imaginário revolucionário e lutas pelo poder. Já que mal pensada, mal organizada, a fuga a Verennes transforma-se em catástrofe para Luís XVI, mas é a prova de que o rei do Antigo Regime esteve sempre preparando em segredo o banho de sangue contra-revolucionária, e também a consagração nacional da conspiração aristocrática. O autor complementa dizendo que o momento dessa fuga fracassada do rei da França data também uma mudança de direção da ideologia revolucionaria.
O autor debate a visão de Robespierre dizendo que para ele a guerra só existe como um jogo pelo poder no interior da Revolução, a ação nunca é incerta, da mesma forma que o poder nunca é inocente. Como a própria Revolução, Robespierre só conhece os bons e os maus, patriotas e culpados, a palavra pública da vigilância e a conspiração oculta dos ministros.
“A festa do Ser Supremo e o Grande Terror estão investidos da mesma finalidade: garantir o reino da virtude” (pg 85)
Furet explica que após a morte de Robespierre, passamos de Cochin a Tocqueville. Ao mesmo tempo que duas épocas, o 9 de termidor separa dois conceitos da Revolução, ele coloca fim a Revolução de Cochin, mas faz parecer a Revolução de Tocqueville. Pois a queda de Robespierre provoca, clara e prontamente é a retomada por parte da sociedade e de sua independência em todos os níveis, quer se trate da vida cotidiana, dos costumes, dos hábitos, das paixões e dos interesses, já que os franceses após o termidor, deixaram de amar a república.
A burguesia do Brumário procurava um militar liberal para coroar um sistema representativo. O sentimento popular impulsiona um general vitorioso a instaurar um Estado absoluto. Como explica Marx, é uma versão administrativa do Terror que encerra a Revolução Francesa. No extremo dessa lógica ambígua encontra-se Bonaparte, ou seja, um rei da Revolução. E é Bonaparte que vai pagar seu duplo preço histórico: um Estado forte e a guerra permanente.
“Mas o que esse livro quer sugerir vai além dessa constatação negativa: é que existe na cultura democrática, que é o verdadeiro acontecimento da Revolução Francesa, nessa transferência da legitimidade que é a sua própria natureza, algo que constitui, pelo avesso ou pelo direito, a imagem tradicional do poder absoluto. Entre 1789 e 9 de termidor de 94, a França Revolucionaria faz do paradoxo da democracia, explorado por Rousseau, a única fonte de poder” (pg 94)
O autor faz suas considerações finais dizendo que a Revolução terminou, pois a França reencontrou sua história, ou reconcilia suas duas histórias, e que a Revolução Francesa não é uma transição, é uma origem, e uma fantasia de origem. E isso que há de único nela, que constitui seu interesse histórico, e é aliás esse “único” que se tornou universal, a primeira experiência da democracia.
a vontade de um povo movida pelo interesses de uma classe dominante onde se perde o controle do povo e prevalece os objetivos do povo onde uns poucos tem interesses comuns.
ResponderExcluirvc tem o livro em pdf?
ResponderExcluirhttps://www.scribd.com/document/378582983/O-Antigo-Regime-e-a-Revolucao-Alexis-de-Tocqueville-pdf
Excluir=)